29 de julho de 2011

Identidade Roubada


O Maníaco me arrastou até o banheiro e me obrigou a ajoelhar diante do vaso. Então levantou a tampa e enfiou minha cabeça lá dentro, batendo minha testa no assento. Ainda agarrado aos meus cabelos,  puxou minha cabeça para trás e, com a mão livre, encheu um copo com a água do vaso. Agachou-se atrás de mim, forçou minha cabeça para trás e levou o copo à minha boca.
Esperneei na tentativa de desviar a cabeça, mas ele pressionou o copo sobre meus lábios com tanta força que pensei que fosse quebrá-lo. A água entrou pela boca e pelo nariz. Antes que eu pudesse cuspir, ele tampou minha boca com a mão e fui obriada a engolir.

Era para ser um dia como outro qualquer na vida de Annie O´Sullivan. A corretora de imóveis levanta da cama com três objetivos: vender uma casa, fazer as pazes com a mãe e não se atrasar para o jantar com o namorado.
Naquele domingo, aparecem poucas pessoas interessadas em visitar o imóvel. Quando Annie está prestes a ir embora, uma van estaciona diante da casa e um homem sorridente vem em sua direção. A corretora tem certeza de que será seu dia de sorte. Mas o inferno está apenas começando.
Seqüestrada por um psicopata, Annie fica presa durante um ano inteiro em chalé nas montanhas, onde vive um pesadelo que deixará marcas profundas.
Construído de maneira extremamente original, Identidade Roubada é o relato visceral que Annie faz a sua terapeuta dos 365 dias em que ficou a mercê do homem a quem chamava de Maníaco.
No cativeiro, ela era obrigada a cumprir uma rotina doentia, como dormir ao lado de seu algoz, ir ao banheiro em horários rigidamente determinados e usar sempre o mesmo tipo de vestido.
As memórias que vêm à tona ao longo de 26 sessões de analise são intercaladas com a historia de sua vida desde que conseguiu escapar do chalé: a luta para superar seus medos e se reencontrar, a investigação policial para descobrir a identidade de seqüestrador e a sensação perturbadora de que seu martírio ainda não acabou.

Você já leu algum livro que ficasse impregnado em cada um dos seus poros? Que ficasse preso a sua pele como uma tatuagem? Que por mais que você se lave e se esfregue, tudo continua lá, do mesmo jeito? Não?? Pois isso é o que irá acontecer aos ler Identidade Roubada.
É impossível ficar indiferente a tudo o que Annie passa. Ela é estuprada, espancada e humilhada sistematicamente. E o tempo todo eu ficava pensando: que Deus me proteja de um destino assim. Que Deus proteja a todos de um destino assim.
Enquanto está presa sentimentos contraditórios fazem parte da rotina de Annie.

Você deve estar pensando que eu gostei quando o Maníaco foi embora, mas a cada dia eu ficava mais ansiosa. Esperando a porta abrir, rezando por esse momento. Eu o odiava, mas queria vê-lo. Eu dependia totalmente dele.

As marcas são tão profundas que mesmo em liberdade Annie continua presa à rotina e aos limites imposto por ele. Nem mesmo ir ao banheiro é uma tarefa fácil. Dormir é quase uma tortura. E confiar novamente em alguém, algo praticamente impossível.

Noite passada bebi quase um litro de chá e passei pelo menos uma hora no vaso sanitário tentando fazer xixi fora do horário. Quase fiz umas gotinhas... senti um momento do tipo “Ah! Meu Deus! Vou conseguir mijar”, mas aí minha bexiga trancou. A experiência resultou em nada, a não ser uma noite em claro.

O livro é narrado em primeira pessoa. Nos sentimos como a terapeuta com quem Annie está conversando e muitas vezes nos pegamos dando conselhos em voz alta na tentativa de ajudá-la.
Annie progride lentamente dia a dia, mas a sensação de insegurança não a abandona. Ela precisa descobrir por que foi escolhida. O que fez para merecer que isso acontecesse. Entretanto quando essa descoberta for feita, será algo pior que todos os seus pesadelos.

A carga emocional é gigantesca, mas esse foi com certeza um dos melhores livros que li esse ano. Recomendo com certeza.

Essa leitura foi uma cortesia da Editora Arqueiro.